Alguns dizem que é necessário viver, mais do que existir. Mas como viver sem existir? Para viver, e viver intensa e verdadeiramente, é indispensável a existência. Só vivo quando abraço a minha existência. É, por exemplo, tomar como minha, a história do Wallace, filho da Rosa e do Camilo, que nasceu em Dona Euzébia; ser responsável por ela e com o que irei fazer dela.
Um dia vi um mestre dizer aos discípulos que para que a filosofia nascesse em seus corações era necessário ele mexer em seus corações, e como um agricultor iria preparar o solo para a semente do saber. Hoje, se eu pudesse falar ao mestre eu diria: aquele dia o senhor não me conhecia, mas tomei as palavras dirigidas aos seus discípulos para mim e venho preparando o solo do meu coração. Mexendo e removendo todos os conceitos e preconceitos de uma vida preta e branco que um dia tentaram me dar, e que, agora vejo que ela possui muito mais cores.
Percebo que Sartre, com sua obra, tenha sido “o último trator a passar pelo terreno”. Sua filosofia me despertou uma série de questionamentos. E este solo arado foi regado por minhas lagrimas do não saber lidar com isso, mas que me tem feito muito bem. E, usando alguns termos sartreanos, posso dizer que estou angustiado por me ver desamparado, não é fácil acordar sabendo que eu serei aquilo que eu fizer de mim mesmo e, sabendo disso, que eu não aja de má-fé.
Alguns quererem saber sobre como fica Deus nesta história. A estes eu respondo que O tenho suspendido. Muito sabiamente me disse o mestre, que “Filosofar é enxergar como seriam as coisas se elas não fossem do jeito que são.” Já dizia Heidegger, em seu texto A coisa, “Todo receber necessita do vazio, como um recipiente”. Desde que nasci eu sei como é acreditar em Deus, ao menos tento cumprir o que me ensinaram. Todavia, mesmo que eu tenha amadurecido essa maneira de acreditar em Deus, com o passar do tempo, ninguém fez por mim o que a filosofia está fazendo. E agora, mais especificamente, no que Sartre me fez pensar.
É bom destacar aqui o fato de que não é só porque um ser humano veio a declarar-se ateu aos 11 anos de idade, que eu vou eliminar toda a sua grandiosidade filosófica. E aos mais religiosos digo, fiquem espertos, pois como sabem, a fé é provada no fogo.
Portanto, falo que a leitura de Sartre deixou muitos acréscimos, e que, com certeza farão a diferença em minha vida. Ainda mais agora que sei que sou condenado a ser livre. Vale ressaltar aqui que a contrapartida da liberdade é a responsabilidade. Compreendo a estranheza de escutar ou ler estas minhas palavras. É como se fosse um mergulho profundo, e que nem todos estão preparados a dar. Eu não sei se estou pronto, contudo ao menos resolvi fazer a aposta; nadar na plenitude da vida, na imensidão do universo enquanto que o Nada ainda não veio ao meu encontro. Será que um dia encontrarei respostas para os mistérios da existência? Há, não careço de respostas. Preciso viver na simplicidade de tudo o que realmente é necessário.
O ontem já foi, o hoje eu estou fazendo acontecer e o amanha é apenas um projeto. Estou percebendo que somente o amor pode acalmar a loucura do mundo. O amor a si próprio. Amarei minha existência e farei dela o projeto principal. Somente assim, estarei pronto a amar algo que me transcende. Isso já me traz um aconchego. E, a vida dita como sem sentido, valerá a pena ser vivida quando eu a fizer acontecer. Termino com uma poesia de Cecília Meireles, pois o poema me leva aonde não consegui me expressar.
Tu tens medo:
acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.