Assim que acontece...
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Um poetizar filosófico de uma vida “angustiante”
Um dia vi um mestre dizer aos discípulos que para que a filosofia nascesse em seus corações era necessário ele mexer em seus corações, e como um agricultor iria preparar o solo para a semente do saber. Hoje, se eu pudesse falar ao mestre eu diria: aquele dia o senhor não me conhecia, mas tomei as palavras dirigidas aos seus discípulos para mim e venho preparando o solo do meu coração. Mexendo e removendo todos os conceitos e preconceitos de uma vida preta e branco que um dia tentaram me dar, e que, agora vejo que ela possui muito mais cores.
Percebo que Sartre, com sua obra, tenha sido “o último trator a passar pelo terreno”. Sua filosofia me despertou uma série de questionamentos. E este solo arado foi regado por minhas lagrimas do não saber lidar com isso, mas que me tem feito muito bem. E, usando alguns termos sartreanos, posso dizer que estou angustiado por me ver desamparado, não é fácil acordar sabendo que eu serei aquilo que eu fizer de mim mesmo e, sabendo disso, que eu não aja de má-fé.
Alguns quererem saber sobre como fica Deus nesta história. A estes eu respondo que O tenho suspendido. Muito sabiamente me disse o mestre, que “Filosofar é enxergar como seriam as coisas se elas não fossem do jeito que são.” Já dizia Heidegger, em seu texto A coisa, “Todo receber necessita do vazio, como um recipiente”. Desde que nasci eu sei como é acreditar em Deus, ao menos tento cumprir o que me ensinaram. Todavia, mesmo que eu tenha amadurecido essa maneira de acreditar em Deus, com o passar do tempo, ninguém fez por mim o que a filosofia está fazendo. E agora, mais especificamente, no que Sartre me fez pensar.
É bom destacar aqui o fato de que não é só porque um ser humano veio a declarar-se ateu aos 11 anos de idade, que eu vou eliminar toda a sua grandiosidade filosófica. E aos mais religiosos digo, fiquem espertos, pois como sabem, a fé é provada no fogo.
Portanto, falo que a leitura de Sartre deixou muitos acréscimos, e que, com certeza farão a diferença em minha vida. Ainda mais agora que sei que sou condenado a ser livre. Vale ressaltar aqui que a contrapartida da liberdade é a responsabilidade. Compreendo a estranheza de escutar ou ler estas minhas palavras. É como se fosse um mergulho profundo, e que nem todos estão preparados a dar. Eu não sei se estou pronto, contudo ao menos resolvi fazer a aposta; nadar na plenitude da vida, na imensidão do universo enquanto que o Nada ainda não veio ao meu encontro. Será que um dia encontrarei respostas para os mistérios da existência? Há, não careço de respostas. Preciso viver na simplicidade de tudo o que realmente é necessário.
O ontem já foi, o hoje eu estou fazendo acontecer e o amanha é apenas um projeto. Estou percebendo que somente o amor pode acalmar a loucura do mundo. O amor a si próprio. Amarei minha existência e farei dela o projeto principal. Somente assim, estarei pronto a amar algo que me transcende. Isso já me traz um aconchego. E, a vida dita como sem sentido, valerá a pena ser vivida quando eu a fizer acontecer. Termino com uma poesia de Cecília Meireles, pois o poema me leva aonde não consegui me expressar.
Tu tens medo:
acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
terça-feira, 22 de junho de 2010
RESPEITE OS SINAIS DE PONTUAÇÃO
_ Você não que eu fale?
_ Sim! Fique calado(a) (em silêncio)
_ Vai ser melhor pra assim?
_ Não! Vai ser melhor para mim.
_ Covarde...
_ Sim! Sou covarde e daí?
_ Você tem medo de quê?
_ Não que eu tenha medo. Acontece que o teu presente talvez seja um passado diferente. Muda tudo (personagens, espaço e tempo) só que o roteiro continua o mesmo.
_ Se arrependeu?
_ Por incrível que pareça não, só não quero uma reprise.
_ Quer que eu vá embora?
_ Não! Peço que permaneça.
_ Porque ficar se...
_ Sim! Você faz a diferença.
_ Decida logo!
_ Se vai ser sim ou não, eu não sei. Mas que seja assim Eu gostar de você e você gostar de mim.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Interrogações
Wallace Andrade Teixeira
O que seria o ser humano? Isso é uma pergunta que me faço constantemente. Aliás, essa é a minha única certeza sobre a constituição do ser humano. A pergunta: O que é o ser humano?
Mencionar que o homem é corpo, ou só alma e até mesmo uma síntese disso, penso que é uma grande redução do que é o Homem. Seria como se eu dissesse: _Eis aqui o homem. E todos perguntassem: _ Onde ele está? E então: Aqui, o homem é isto!
Acredito que o verbete Antropologia traz em si mais do que características do que estudamos. Não eliminando o que estudamos até aqui. Pelo contrário, eles foram pré-requisitos para meus questionamentos. Sem eles (os estudos dos textos) eu não questionaria o que é o homem e mais ainda, eu não me questionaria.
E aqui descrevo minha opinião do que é o homem! Ele é uma interrogação. É como se fosse um pendulo e seu movimento. O objeto (pendulo) é o indivíduo e seu movimento toca extremos, o interrogante e o interrogado. E então estabelecemos a pergunta. O que é o homem?
Às vezes o ser humano está
Tentarei explicar meu parecer. Vejo que através de interrogações o ser humano chega a exclamações. Ele evolui, se constrói, ou melhor, ele entra num processo de destruição e construção. Uma constante auto-modelação. Ele se supera ao final de cada frase. Mesmo que parando em meio a vírgulas, seu desejo é sempre à completude do “texto”. Entretanto ele só chega aos pontos finais de parágrafos. E vai escrevendo sua história, criando esperança de responder a pergunta: o que é o homem? Chegando ao final das linhas da folha ele se prepara para o fim do texto e o alcance da resposta.
Mas quando ele chega ao aparente fim, ele vira a página. E se vê perante muitas outras linhas esperando vírgulas, travessões, parágrafos e consequentemente muitas interrogações. Acho que agora fica mais claro meu pensamento. Não claro e distinto, todavia menos “embaçado”.
Não sei se é correto meu destrinchar dos verbetes, mas gosto de fazê-los. Chama-me a atenção e me impressiona. Vejamos como eu gostaria de desmembrar a palavra interrogações. Eu dividiria em Inter e rogações. A primeira quer dizer dentro, interno, interior. A segunda seria rogar, pedir, clamar. E como classifico o ser humano como interrogações tenho que concordar que ele é um movimento constante de clamores interiores de quem ele é, o que ele é.
E isso não é motivo algum de caos ou crise. Mas motivo de graça, um tempo de graça (Kairós). Entretanto não são interrogações sem respostas. Mas interrogações respondidas. O indivíduo se torna um Ser mais Humano a cada momento que se perde respondendo duvidas, perguntas. Até mesmo se a resposta for uma outra resposta.
Portanto Antropologia a meu ver é isso: movimento. Não importa qual seja a antropologia. Mas na filosofia ela é uma dança que, de acordo com a melodia dos acordes, cria coreografias e apresenta um espetáculo contínuo da tentativa de responder: que é o homem?
terça-feira, 4 de maio de 2010
Tem que ser por meio de palavras?
Tem que ser por meio de palavras?
Expressar. Como? Por quais meios? Afinal por quê?
Mostrar o que sinto, penso ou desejo;
Tem que ser pelo método mais comum?
Aliás, nem sei se é tão comum falar
em mim, prefiro demonstrar.
Tem que ser por meio de palavras?
Será que as pessoas necessitam que eu fale?
Eu não posso simplesmente mostrar?
Os gestos já não são suficientes?
Porque não percebem no sorriso bobo que faço,
Quando escuto suas palavras tão bem faladas?
Tudo bem se os outros falam com facilidade.
Eu não! Já percebeu quando você fala algo simples?
Não era necessário rir, mas pra notar minha presença o sorriso sai.
Tem que ser por meio de palavras?
Tenho posse das palavras, todavia elas estão em mim.
Os outros ainda não as têm,
Concluo que me pertencem, pelo menos em pensamento
imediatamente desfaço e confesso que,
na verdade elas não me pertencem.
Elas são dos outros, porque foram eles que me fizeram pensá-las.
No que estou louco a dizer pertence a eles.
Eles que me causaram o pensar.
Tem que ser através de palavras?
Porque não é percebido no olhar, que quase saem de suas órbitas
Na boca que murmura, mas que não fala com medo de errar,
e se sentir um fracassado.
Tem que ser através de palavras?
Tudo bem que enquanto expressão ela é criativa, cheia de força a cada intenção, e quando exprimida
quase nada do que foi instituído foi falado.
É isso que me faz desistir da fala.
Realmente, aquilo que penso é dos outros
é tão dos outros que perco aquilo que não tinha.
Tem que ser em palavras? Eu não sou bom com elas, seja falada ou grafada. Decidi, eu não falarei!
Então por favor, perceba em mim aquilo que está como um letreiro à beira da estrada com suas luzes de uma forma tão nítida que nem é mais necessário falar.
Basta você agora perceber e corresponder.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
RABISCOS
Será mesmo o mais belo desenho? Ou seria o meu coelho de corpo azul, de orelhas vermelhas e com um lenço roxo no pescoço com algumas manchas verdes.
Com rabiscos for dos traços e ultrapassando o que me foi imposto fiz meu colorido. E sem atrapalhar o do meu coleguinha. E quando terminei pude levantar da cadeira e gritar: Acabei!!! Ou então: Tia Olha o meu como tá bonito. E ouvir em toda sala, (até mesmo de alguns que não entenderam minha espontaneidade) críticas sendo feitas, também alguns elogios e até algumas risadas no canto da sala, aquela perto da janela.
Pena que o tempo de criança passa. Infelizmente deixamos de fazer os nossos rabiscos e ultrapassar os limites impostos. Esquecemos de ser e passamos a construir o que os outros querem. Deixamos de ser autênticos artistas. Não que padrões sejam errados, mas o que eles não podem é impedir nossa criatividade. E sim, transformar a natureza, inovar.
Muitas vezes acontece o pior. Nós deixamos de rabiscar e colorir a vida. Não colocamos nossa marca na folha em branco da vida. Ou seja, inautênticos. Ai que saudade de ser Criança...